23 março 2008

Perigosas delícias

Jornada em São Paulo discute a relação entre a indústria alimentícia e a obesidade infantil – e propõe restrições para a propaganda de alimentos

A obesidade é um problema de saúde global de proporções espantosas: atinge todas as faixas etárias, sobretudo nos países menos desenvolvidos.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) calcula em cerca de 22 milhões o número de crianças de até 5 anos obesas no planeta. No Brasil, um levantamento feito em 2003 detectou 609 mil brasileiros com mais de 20 anos com obesidade mórbida, problema muitas vezes originado nos primeiros anos de vida. Como conseqüência, temos uma geração de jovens com doenças típicas da meia-idade e até da maturidade: hipertensão, diabetes, infarto, acidente vascular cerebral (AVC).

Distúrbios no relacionamento familiar, a comida usada como gratificação, como maneira de consolar ou distrair a criança, podem contribuir para a obesidade infantil. O garoto ridicularizado na escola por seu sobrepeso sente-se rejeitado, buscando refúgio no aparente conforto da guloseima. A falta de informação sobre bons hábitos nutricionais ou o estilo alimentar desregrado dos pais contribuem para o agravamento do problema.

Como a maioria dos casos tem implicações psíquicas, que envolvem outros membros da família além da própria criança, a orientação e o acompanhamento psicológico são fundamentais. Além da inegável influência dos hábitos e das implicações psíquica, a alimentação inadequada é incentivada por aspectos culturais, como o bombardeio de propaganda de alimentos industrializados – muitos deles nocivos à saúde.

Sua veiculação não é regulada no Brasil, ao contrário do que acontece na Inglaterra, na Alemanha, no Canadá, na Finlândia, na Dinamarca, na Suécia ou na Grécia. Nesses países, há restrições de horário para exibição de determinados comerciais de alimentos, proibição da presença de apresentadores infantis nas propagandas e veto à publicidade enganosa.

A criança é mais vulnerável ao ataque da propaganda em que super-heróis e personagens de desenhos animados não raro são porta-vozes de “bombas alimentícias”, atribuindo “poderes especiais” ao consumidor de um produto. Alimentos com altos teores de gordura, açúcar, sódio e sal, com poucas fibras e nutrientes, são anunciados como opções saudáveis e “divertidas”.

Pesquisas com alimentos direcionados ao público infantil, feitas pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e pelo projeto Criança e Consumo, do Instituto Alana, identificaram incongruências. Analisando um achocolatado – que em seu rótulo inclui palavra “cereal” –, a equipe detectou a presença de menos de 3 g de fibras por 100 g de produto (quantidade recomendada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para que um produto possa ser considerado fonte de fibras), o que mostra que ele não deveria ser denominado cereal. No mesmo produto, o sódio – “vilão” dos minerais – encontra-se em alta concentração: em uma porção de ¾ de xícara, foram detectados cerca de 30% da ingestão diária recomendada.

Para debater formas de aperfeiçoar a relação entre público e propaganda, e assegurar os direitos da criança como consumidor, acontece dia 26 de março, no Teatro Marcos Lindenberg, da Unifesp (rua Botucatu, 862, São Paulo, SP) a II Jornada Propaganda de Alimentos e Obesidade na Infância e Adolescência. Serão abordados temas como a contrapropaganda ou “marketing social”; o poder da propaganda de induzir comportamentos; o papel do Estado na regulamentação da propaganda e o panorama atual das legislações internacionais relacionadas à publicidade de alimentos.

Participam do evento representantes da Promotoria de Justiça do Consumidor do Ministério Público de São Paulo, do Instituto de Defesa do Consumidor (IDEC), da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), do Projeto Criança e Consumo do Instituto Alana e do Núcleo Interdepartamental de Segurança Alimentar e Nutricional (NISAN) da Unifesp. A inscrição é gratuita, mas as vagas são limitadas. A programação completa pode ser encontrada no link: http://proex.epm.br/eventos08/nisan/index.htm

Fonte: Mente e Cérebro

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