Escola pela manhã, inglês cinco vezes na semana, balé na terça e na quinta, e jazz às quartas e sextas. Para quem pensa que a elétrica Manuela Pessoa, 13 anos, tinha uma folguinha no sábado... Maratona de Química pela manhã e aulas de catecismo e crisma à tarde. A agenda, que nem de longe inveja a de muitos adultos atarefadíssimos, exigiu da adolescente uma tomada de decisão. “Era preciso desacelerar, antes que algo mais grave pudesse acontecer”, reconhece ela. Manu, como gosta de ser chamada, refere-se à distensão numa das coxas e à inflamação nos joelhos.“Também me sentia cansada e com pouco tempo para me divertir”, conta, deixando claro que as escolhas feitas foram próprias e não por exigência dos pais. Jácer, a mãe, diz que a filha se cobra muito e que, por isso, quer dar o melhor de si em tudo o que faz. “Aqui, em casa, estamos sempre buscando o equilíbrio”, afirmando também ter sido a hora certa de Manu diminuir a sobrecarga de atividades. O perfeccionismo é comum ao colega Efízio Alves Rolim Neto, 13, que diz não aceitar ser menos do que juiz na vida. “Às vezes, até peço para ele relaxar. Em vez do computador, conversar mais com os colegas”, fala a mãe, Eloíza.Mas nem todos os pais pensam como Jácer e Eloíza. De acordo com a psicóloga Alessandra Silva Xavier, muitas famílias querem antecipar a profissionalização na vida dos filhos. Nesse contexto, observa a também psicóloga Andréa Carla Filgueiras Cordeiro, duas questões caminham entrelaçadas: o desejo da família de uma educação diferenciada para tornar os filhos competitivos e uma realidade familiar em que os pais trabalham muito, não podem acompanhar os filhos de perto e acabam optando por uma formação mais integral.“Eles (os pais) acham que quanto mais cedo o menino dominar três línguas estrangeiras, ser um Einstein na Física e um Pitágoras na Matemática, vai conseguir logo sucesso profissional”, avalia Alessandra. No entanto, muitas crianças estão pagando um preço alto na busca dessa perfeição. Dependendo do estresse, da alimentação, das relações familiares, entre outros condicionantes, gastrite, alergia, hipertensão, diabetes, problemas posturais, transtornos alimentares e depressão são algumas das graves conseqüências presentes e futuras elencadas pela especialista.“Cerca de 70% dos casos que chegam aos consultórios de Psicologia têm alguma relação com a sobrecarga de atividades”. Alessandra adverte que outras habilidades devem ser construídas, como a capacidade de tolerar frustrações e a construção do amor próprio.Diante disso, aconselham o pediatra João Cândido Borges e a neuropediatra Liana Coelho, não custa nada os pais ficarem atentos a sintomas típicos de que algo não está bem, como irritabilidade, dificuldade na fala (gagueira), comportamento infantil já superado, choro sem motivo aparente, agressividade, tiques nervosos, isolamento, dores de cabeça freqüentes, insegurança, entre outros. Afinal, como bem lembra a psicóloga Alessandra: “A perfeição é uma impossibilidade humana”.
Fonte: Globo.com
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