Adoção: sobre mitos e medos

Letícia Santos Gomes Costa

  Há algumas semanas atrás eu fiz uma enquete questionando sobre qual o seu temor com relação a adoção, e o objetivo desta pesquisa era justamente refletir o quanto estamos enraizados na concepção de que a adoção tem como resultado o fracasso. Se eu te perguntar se você adotaria uma criança, o que você responderia? juntamente com a sua resposta estava um "mas, e se..."?

"e se ele tiver uma má índole?!"

"e se ele apresentar problemas de comportamento mais adiante?"

"e se ele se revoltar por ser adotado?"

"e se..."

  Dentre os "e se..." estão os mitos que muitas vezes fazem com que casais desistam de adotar uma criança. Ronda-nos o paradigma do "laço de sangue", que na minha opinião é o pai desses mitos e medos, até porque as crianças a serem adotadas vêm de situação de exclusão social e vivem em instituições de acolhimento. Sobre isto é importante afirmar que o que nos define, a nossa personalidade, é uma mistura de fatores biológicos, culturais e as nossas experiências. Assim, uma criança que veio de uma história de abandono e de uma institucionalização pode sim ter uma vida tão saudável e feliz quanto uma que veio de uma família saudável. Abaixo listei alguns pontos importantes para refletirmos: 

• A primeira e essencial questão é que pai e mãe adotivo é pai e mãe. O amor, a cumplicidade, o respeito são construídos do mesmo modo que de uma família biológica;
• Não tornar as raízes biológicas da criança um tabu. Converse e entenda que é normal que ela queira saber sobre sua história;
• Um dos principais motivos de decidir-se pela adoção é a infertilidade e muitas vezes os casais querem adotar bebês, mas a maioria das crianças institucionalizadas são mais velhas. E muitas vezes, a família procura "camuflar" as relações adotivas, e nesse sentido, adoções inter-raciais, de portadores de deficiência e de crianças maiores seriam evidentes demais;
• As dificuldades encontradas pelo caminho não se diferem com as que aparecem nas famílias biológicas: é preciso dar carinho assim como é preciso dar limites;

  Então, se você por um acaso pensa em adotar uma criança não deixe que essas crendices atrapalhem o seu sonho de ter um filho. Uma criança feliz é uma criança com um lar estruturado e baseado no amor e com limites. No começo será um período de adaptação para os dois lados e lembre-se sempre:

"Adotar é acreditar que a história é mais forte que a hereditariedade, que o amor é mais forte que o destino". Lidia Weber

Para quem tiver mais interesse pelo assunto indico o Blog Psicologia e Adoção da psicóloga Cíntia Liana.