Um leitor de 16 anos me enviou um e-mail contando que há 3 meses namora um garoto de 14 anos. Quando o pai descobriu o relacionamento disse ser contra por preferir que o filho se relacione apenas com garotas e desde então o pai mal fala com ele. O adolescente então me pergunta o que ele poderia fazer para que o pai aceite e entenda a sua escolha.
A partir do momento que eu recebi esse e-mail eu refleti e pesquisei alguns artigos sobre o tema. Apesar de ser um assunto que está em constante discussão, a homossexualidade ainda é um tabu, especialmente quando se trata de um adolescente. O foco dessa reflexão vai ser sobre relacionamento pai e filho, já que foi o que o leitor me questionou.
Contudo, considero interessante falar brevemente sobre "ser homossexual". Todo comportamento é multideterminado: fatores biológicos, história de vida do indivíduo e fatores culturais. Para analisar qualquer comportamento, inclusive a homossexualidade temos que levar em conta estes fatores.
- Fatores biológicos: Muitos consideram o comportamento homossexual como anti-natural. Entretanto há um grande número de animais que apresentam relações macho-macho e fêmea-fêmea. Analisando fatos da antiguidade, observaremos que a homossexualidade não é algo tão atual (relações entre guerreiros de diversos povos e mítica Ilha de Lebos onde mulheres teriam criado uma sociedade onde ocorriam relações afetivas e sexuais femininas). Assim, no sentido biológico, há indicativos de que a homossexualidade seja um fato natural.
- História de vida do indivíduo: Há alguns relatos na literatura que sugerem uma relevância de eventos ambientais na homossexualidade. Dentre estes eventos ambientais estariam: sensação de ser diferente dos pares; experiências sexuais precocee com adultos do mesmo sexo; identificação com o grupo homossexual, dentre outros.
- Fatores Culturais: Muitas das diferenciações do que é feminino ou masculino são determinados pelas práticas culturais, como por exemplo: rosa é pra menina e azul para menino. Se um menino diz que gosta da cor rosa muitas vezes funciona como um indicativo para a homossexualidade. Há o registro sobre grupos Balcãs Ocidentais, onde a divisão sexual do trabalho é extremamente rigorosa e apenas homens podem realizar trabalho externos no campo, e em família onde há apenas mulheres, para que uma delas possa trabalhar no campo esta adota publicamente uma identidade masculina.
Pode-se perceber que o comportamento sexual é complexo. Os fatores biológicos, ambientais e culturais estão interligados. Sendo assim, não há como dizer qual fator é o mais determinante. Bem, com uma breve explicação sobre a multideterminação do comportamento homossexual vamos falar sobre o relacionamento pai e filho. Quando eu li este e-mail eu me lembrei de uma reflexão que fiz na fanpage do blog sobre o final da novela da Rede Globo "Viver a Vida". Creio que devemos levar em consideração alguns pontos:
- O filho entender o pai: Quando uma pessoa sabe que terá um filho ela começa a idealizar a criança: saudável, bom aluno, popular, heterossexual, etc. Quando o filho real se diferencia muito do ideal, como por exemplo, um filho homossexual ao invés de heterossexual, é comum que este pai (ou mãe) experimente uma espécie de luto. Além disso, temos que considerar que muitas pessoas consideram o comportamento sexual como pecado e imoral devido a religião, não sei se isso é o caso do pai do leitor. E ainda tem o fato de encarar toda a sociedade, que na maioria das vezes não aceita a homossexualidade como algo normal. Desse modo, aceitar um filho como homossexual não é algo que aconteça do dia pra noite e que seja fácil para os pais. O fato dos pais não falarem sobre assunto pode ser simplesmente pelo fato deles não saberem o que falar ou até mesmo, pelo medo de que tocando no assunto eles estejam de alguma forma incentivando o comportamento homossexual. É um processo.
- O pai entender o filho: Os pais muitas vezes ao descobrir um filho homossexual tentam encontrar a causa e a "cura" para tal comportamento. Mas como descrito no início do post o comportamento sexual é complexo e multideterminado. Encontrei um artigo sobre um pai relatando sobre como foi a sua experiência com um filho homossexual.
- "Há tempo para tudo": Eu considero esta frase bem adequada para se falar sobre a sexualidade na adolescência.Você tem 16 anos e seu namorado 14. Vocês são novos e podem não ter maturidade e informações suficientes para iniciar uma vida sexual. Não apressem as coisas.
- "Construindo Pontes": Se algum dia eu escrever um livro sobre relacionamento pais e filhos este será o título. Para construir a ponte sobre o abismo que se formou entre você e seu pai é preciso esforço dos dois lados. Os pontos 1 e 2 são muitos difíceis. Eu não direi que seja fácil reconstruir uma relação entre pai e filho para que ela seja saudável e possua os igredientes esseciais: amor, diálogo e limites. Sim, limites! Como disse no ponto 3, vocês são adolescentes e devem respeitar os limites impostos pela família de vocês ao namoro (assim como um casal de namorados heterossexuais). Quando o diálogo entre vocês for resgatado (assim que seu pai passar por essa espécie de luto) não veja o limite como preconceito.
- Como resgatar o diálogo? Mais uma vez eu repito, não é fácil. Mas não desista. Você pode mostrar (e falar) ao seu pai que você entende o lado dele e fale com ele sobre o que você sente a respeito dessa situação. Enfim, espero que o amor entre pais e filho esteja acima da opção sexual.
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